Fagulha estelar
Fui partida em pedaços, dividida em metades gerais, como se a cura nunca me fosse permitida. Talvez eu devesse ser menos generalista com a doença que confunde meu discernimento e me arrasta para os julgamentos alheios. Não consigo identificar as fumaças tóxicas das relações; sempre me desfaço em contradições, afogada na decepção com os outros — e comigo mesma. O que eu poderia confessar à terapeuta? Que a angústia me acompanha desde a infância, desde os primeiros sopros da vida. Que cedo senti o vazio se instalar dentro de mim, um oco que nunca se preencheu. Que sempre me percebi desalinhada, desajustada, um corpo intruso em um mundo sem sentido. Passei anos tentando dar significado à minha existência, me agarrando a frases feitas que só enfeitavam minha superficialidade. Mas a profundidade, o mistério, o subconsciente... eles sempre voltavam para me buscar. Em sonhos, em percepções súbitas, em vozes que ecoavam durante as noites em que me embriagava. Eu vi — com meus próprios olh...