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Mostrando postagens de setembro, 2024

Capítulo 23: A descida ao paraíso distorcido com fritas

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A noite era mais escura do que o normal, ou talvez fosse eu que estava começando a enxergar a vida assim — uma mistura de sombras e silêncios que se entrelaçavam, sem deixar muito espaço para a luz. Estava exausta, cansada de tudo. O trabalho, a família, os relacionamentos que se esfarelavam, como com o  Judas (porque não havia nome mais apropriado para aquele traidor). Meus olhos se fixaram no copo à minha frente, um convite para o abismo, e eu aceitei. Enchi meu corpo com tudo o que pudesse entorpecer os pensamentos: papel, majis, álcool, cigarro. Era como se eu quisesse apagar não só a dor, mas qualquer vestígio de mim mesma. O reggae soava distante, como se estivesse tocando para outra pessoa, em outro lugar. Eu comi muito pouco naquele dia, o que fez com que a mistura ficasse ainda mais potente, mais rápida. Meu corpo começou a ceder, e antes que eu pudesse perceber, fui ao banheiro do bar, tropeçando nas sombras que se formavam em minha mente. Agarrei a privada como se fosse min

Carta aberta

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Querida Thaiane, Escrevo para você de um futuro onde as cicatrizes estão mais visíveis, mas o coração, mais leve. Escrevo para você que se perdeu em tantas dúvidas, que se olhava no espelho tentando entender o que em você não era suficiente. Foi por tantas palavras jogadas ao vento, por olhares que não te enxergavam, e pelo peso de um estigma cruel que você foi convencida a carregar. Quantas vezes questionei minha autenticidade, minha liberdade de ser quem sou? Me diziam para ser algo menor, algo que coubesse nos limites dos outros. Me chamaram de tantos nomes, me rotularam como desajustada, como uma mulher perdida por simplesmente existir. E eu, naquela época, aceitei. Aceitei porque, como tantas outras mulheres, fomos convencidas de que nosso valor depende de sermos validadas externamente. Ele entrou na sua vida como uma tempestade silenciosa, não te respeitou, não enxergou sua profundidade. Para ele, você era apenas uma pausa entre suas próprias inseguranças, um eco de seus desejos

A Torre e o Trovão

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Gerei meu ultimato com a ressaca moral. Ela passou mais uma vez, olhando minhas condutas e se perguntando sobre construções. Do abismo entre o que se achava correto, para o que meus impulsos me levaram a agir. Apenas um ser humano diante da dinâmica voraz de sua própria natureza. Por que deveria me submeter aos encantos do caos, se saísse disso cada vez mais angustiada? A resposta nunca foi satisfatória para o meu ego, mas alimentava minha alma humilde, que retratava ao meu subconsciente seus porquês e finalidades. Minhas crenças obsoletas tinham que morrer. Ser enterradas abaixo da terra. Eram elas que me seguravam, que me davam uma falsa sensação de controle e poder. Ao mesmo tempo que me deixavam segura em certezas banais, me traziam um sufocamento eterno de espírito. Aquilo me enforcava. Me trazia de novo a dor e o sofrimento. O sofrimento que tanto quis largar, e andei com ele para esconder minha frustração. Minha sina de falsa culpa e de ilusões precárias da mente com o objetivo