A Torre e o Trovão



Gerei meu ultimato com a ressaca moral. Ela passou mais uma vez, olhando minhas condutas e se perguntando sobre construções. Do abismo entre o que se achava correto, para o que meus impulsos me levaram a agir. Apenas um ser humano diante da dinâmica voraz de sua própria natureza. Por que deveria me submeter aos encantos do caos, se saísse disso cada vez mais angustiada?

A resposta nunca foi satisfatória para o meu ego, mas alimentava minha alma humilde, que retratava ao meu subconsciente seus porquês e finalidades. Minhas crenças obsoletas tinham que morrer. Ser enterradas abaixo da terra.

Eram elas que me seguravam, que me davam uma falsa sensação de controle e poder. Ao mesmo tempo que me deixavam segura em certezas banais, me traziam um sufocamento eterno de espírito. Aquilo me enforcava. Me trazia de novo a dor e o sofrimento.

O sofrimento que tanto quis largar, e andei com ele para esconder minha frustração. Minha sina de falsa culpa e de ilusões precárias da mente com o objetivo de me proteger.

Que irônico. A vida, mais uma vez, tirou um sarro. Me fez ver o quanto sou acolhida no meu próprio espaço minúsculo... que me fere como uma gaiola de uma águia sem voar. De uma lagarta sufocada dentro de seu casulo. Perdi minhas penas e asas? Onde meu espírito se conteve em temer o voo?

Que estado de mente me jurei por falsa proteção? Que manifestação tive de mim?

Que seja para me libertar de vez dessa dor profunda. Deste ócio e silêncio ensurdecedor. Deste caos e eterna fuga, porque fui ali criança. Sonhadora, inocente e com medo da vida, das pessoas e da minha própria bagunça.

E agora, ao encontro do que sinto dentro de mim, me vejo uma torre desabada. Porém, com tudo o que foi ilusão sendo derrubado. O vento veio e derrubou o encantado castelo de areia. Da postura remetida ao outro. Do encanto ao servir aquele que nunca quis ver a verdade. E que verdade, meu caro? Ah, que você nem se encontra para saber... Ou aquela que é entupida de certezas e que não são acessadas por ninguém... A não ser por nós mesmos.

E de forma fascinante, como consigo me encarar diante de tudo que foi e um dia será. A esperança de um passo adiante me fez ver que a busca dizia respeito ao meu ser completo. Cheio de cacos espedaçados por meras condições impostas por outros e a minha passividade. Joguei o eterno foda-se. Afinal, quem sabe o que é melhor para mim, a não ser eu mesma?

E esse poder de entender dificilmente se remete à dor que a autenticidade carrega. Aceitar a dimensão mais profunda do Ser é um movimento doloroso e expansivo que apenas aqueles que sabem lidar com as consequências entendem. Este abismo é só meu. Por glória! Eu posso me jogar. Eu posso também me tirar dali.

Posso derrubar cada castelo de ilusão, cada narrativa contada pela mente. Posso arrancar a erva daninha do meu campo. Cada verme doente que, em uma busca de cura, também te adoece. E usarei os defensivos da realidade. Usarei minha força selvagem para caçar o Lobo em pele de Cordeiro. Separando o joio do trigo... Jogando sementes mais férteis. Aquilo que cresce, que deixa crescer, que almeja o crescimento. E não uma bactéria nociva, que te suga e que te remete às suas limitantes condições de si mesma... Que usa seu poder para conseguir sobreviver.

Que a Torre da sua ilusão caia e o Trovão leve cada grão desta narrativa mal contada.

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