Sufoco em lençóis de linho fino e largo

Sufoco em lençóis de linho fino e largo.
Fui vendida pelo diamante do sangue.
Arrastada por essa Matrix que suga até a última gota,
até o último suspiro de quem ainda insiste na ilusão do temporário —
e na urgência de não desfrutar,
nessa ignorância tão incrivelmente vestida de verdade.

Estar aqui, na Terra,
é calçar uma calça apertada demais.
É prender o ar no peito pra caber no molde.
É estar enforcada por dentro, içada por ganchos invisíveis,
mexida até a última dor de existir.

Mas... que vida é essa?

A vida que só vê o brilho do ouro nos dentes,
e não enxerga o que realmente importa.
Jogada, amarga, completamente só.
Só eu posso resolver meu pequeno e humano dilema.
Enquanto tantos sangram por falta de um olhar,
de um toque, de um “eu te vejo”.

Em montanhas, tento alcançar a Lua —
um desejo quase real, quase ridículo.
Porque a maior ilusão é o sonho da Terra.
E eu sei que, em outros paralelos, eu voo.

Encanto flores.
As árvores conversam comigo.
Os pássaros cantam em minha janela.
O ar me abençoa, o mar me cura.
A Terra me chama, sem pedir nada.
Sem exigir absolutamente nada de mim.
Apenas me abraça. Me acolhe.
Me guia para dentro de mim,
onde tudo é vasto, vivo e verdadeiro.

Mas então eu acordo.
Trabalho.
E digo a mim mesma que produzo.
Produzo o quê?
Mais ganância?
Mais egoísmo?
Mais solidão?

Deus, eu não quero essa vida sem amor.
Porque eu sei o que há em mim.
E sei dos encantos que vivo à noite
com meus amigos espirituais —
da terra de onde vim,
para onde vou voltar.

Aqui parece prisão.
Um plug cravado no pescoço.
E quando for arrancado,
veremos a realidade nua.

Sempre senti o peso do mundo,
até descobrir que o peso... era eu.
Minha forma de viver, de aceitar, de ajeitar.
Nos destruímos devagar, com classe,
inventamos problemas,
resolvemos problemas,
e ainda assim...
um vazio enorme.

Por quê?

Nos entupimos de álcool, drogas, comida, sexo, distrações —
tudo aquilo que o Diabo ama.
E veja: ele nem é meu inimigo.

E voltamos ao circo vital,
com correntes disfarçadas de liberdade,
lobos com peles de cordeiro,
te vendendo a alma
em nome de algo que jamais será seu.

Vendem o seu valor,
a sua luz,
a sua capacidade de curar realidades.
De amar com profundidade.
De ser cúmplice de algo maior que si.

Sim, talvez soe piegas.
Mas que seja.
Piegas diante da inevitabilidade do tempo
é, ao menos, sincero.

E talvez, vaidosa,
eu ainda acredite que podemos ser mais.
Mais que essa bagunça.
Mais que esse lixão emocional
mascarado por conceitos…
e uma maldita tela de celular.

Até que a gente encontre —
sem saber o que procura —
o rompimento dessa cadeia mental
sufocante chamada:
ser humano.

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