Vaga-bunda
Eu permaneço em silêncio, porque há palavras que só o vazio consegue dizer. E na ausência de som, a verdade ecoa: nunca houve amor de verdade, nunca houve o sentir profundo que me prometiam seus olhos. Eu era um troféu na sua prateleira de conquistas, uma prova da sua habilidade de se sentir capaz, não comigo, mas através de mim. Agora, ao olhar suas nuances, percebo que o que existia era dor disfarçada de cuidado. Você se vestia como um herói, mas no fundo só buscava salvar a si mesmo. A maior mentira foi o que você chamou de amor. Era controle, era desejo de moldar. Meu jeito de falar, minhas roupas, meu passado, meus vícios — tudo precisava ser refeito, ajustado à sua medida. Nada era suficientemente verdadeiro aos seus olhos. E ainda assim, quem mentiu não fui eu. Foi você, que me fez acreditar que cuidar de mim era amor, quando nunca foi. Sempre foi sobre você. Sobre suas feridas, suas inseguranças, seu medo de enfrentar o que escondia dentro de si. Você projetou em mim sua busca ...