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Mostrando postagens de abril, 2025

A travessia do sentir

A vida, tantas vezes, me atropela com acúmulos — de lutos, de pausas forçadas, de finais que não pedi. E mesmo quando o tempo insiste em seguir, há emoções que esticam seus tentáculos até a pele da alma, e a tocam com uma intensidade que nunca soube manejar. Senti demais. E no excesso, me afundei na apatia — como quem deseja, secretamente, sentir um pouco menos para, enfim, sobreviver. Pedi aos céus um descanso da minha própria sensibilidade. Umas férias da alma. Um exílio voluntário do que sou. Ali, onde me refugiei, encontrei um espelho: um reflexo de todas as incongruências que carreguei ao longo da vida. A menina rebelde, que gritava por controle, agora silencia diante da mulher que entende o valor do desapego. Ele foi o último vendaval. Um amor turvo, entre o apego e a destruição. Ele me feriu em lugares onde ninguém havia chegado — sem filtros, sem freios, sem cuidado. Um homem que, talvez, nunca tenha aprendido a amar uma mulher… ocupado demais tentando sobreviver à sombra da ...

O INVISÍVEL VISTO

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Sempre fui atravessada por sonhos lúcidos demais para serem apenas delírios noturnos. Eram visões densas, carregadas, que tocavam minha pele etérea e reverberavam por cada célula do meu existir. Eu os sentia com a carne e com o espírito. As vozes... traziam timbres ancestrais, vibravam como cordas de um outro tempo, e diziam verdades que a mente acordada não ousava traduzir. Ali, naquele sobrado esquecido de escuridões e memórias, eu reconhecia o cenário de minhas outras fugas noturnas. Dona Rosa não podia me abandonar — ela, minha guardiã de outrora, meu farol nos becos da inconsciência. Mas ele... ele me esperava. Ele queria me ver definhar. Machucar. Queria calar esse meu brilho que acendia sua sombra. Meu dom de sentir revelava-lhe tormentos. E talvez... também sonhos. Foi ali que o despertar se deu: paralisada entre mundos, acordada por dentro e presa por fora. Eu sabia... não era pesadelo — era travessia. E do outro lado, aquele ser me via sem máscaras, sem nome, sem carne. Via m...