De volta ao meu lar... Eu


Mochila guardada dentro do porta malas e mais umas roupas jogadas. Sapatos empacotados em sacolas. Tudo jogado. Documentos esquecidos e alguns perdidos. Mais uma vez, estou indo. Novamente, mais um fim. Novamente, mais um... Tudo cabendo em uma mochila, três sacolas retornáveis, uma bolsa e mais alguns pertences. Minha jornada cabendo num carrinho pequeno de mercado. Tudo cabendo em apegos, medos e derrotas. Fome.
Há anos fazendo disso uma vida cigana. Uma vida cheia de instabilidade e procuras sem fundamento, sem amor. Procurando sempre ver por aparências, vendo pelos ideais e intelecto... Tentando entender por raciocínio, por palavras tão cheias de teor relevante mas tão vazias na prática das atitudes. Usando utensílios, pessoas e meios do externo. E por mais que ainda buscasse dentro, nunca era o suficiente acreditar só em mim.
Perdi mais do que peças de roupas, documentos, dinheiro e coisas materiais. Perdi o instinto de confiar naquilo que sempre gritou em mim. Eu sempre soube. Sempre via. Mas a gente se prende em fragilidades. Em conteúdo barato e em formas falsas de sentir. Cria-se sempre uma desculpa para fugir... Para não ver... Para não sentir.

Desde que comecei a me buscar, fugi de mim. Fui contraditória. As vezes me enganava achando que já sabia de tudo ao meu respeito e que não precisava mais me olhar por dentro. Suprimindo a necessidade com qualquer coisa efêmera e sem real sentido. Buscando coisas, sempre satisfazendo a vontade alheia, sempre enganando meu ser. Nunca ouvindo aquela voz. Desrespeitando eu mesma! Causando transtorno, ansiedade, depressão. Apegada a velhos conceitos.
Se a gente realmente entendesse o quanto dói não seguir o nosso Eu. O quanto machuca e o quanto distrai viver por outrem a não ser por você.
Queria voltar a ter uma vida que nunca me preencheu, mas que era confortável. Que era supostamente estável. Queria voltar a sentir amor por uma pessoa e doar o meu alimento vital para outros, porque só para mim, não bastava. Queria ter milhões e uma vida financeira abundante, pois achava que era aquilo que continuaria a me dar prazer e esquecer a verdade crua da minha alma... que eu queria continuar não me amando! Que eu queria voltar a ser o que era, porque se amar sob todas as circunstancias eu não sabia fazer. É trabalhoso! Se aceitar, se abraçar, se aprovar, ser suficiente sempre.
Quando tive momentos disso, me enfiei no abismo do medo e voltei com as coisas empacotadas. Esse novo sentimento me dava medo. Esse amor por si era tão grande, tão maravilhoso que eu preferi me atazanar novamente porque tive medo de confiar. Porque é foda! A gente sabe que quando nos amamos, nada no mundo pode nos parar. Absolutamente nada. E talvez, no fundo eu não quisesse parar. Mas mergulhar no seu ser requer coragem. Requer uma confiança absoluta em si mesmo. Parecia até arrogante, egoísta... mas se amar, não é nada disso! É muito maior.
Tenho essa voz dentro que suplica, implora por amor. Mas pelo meu amor! Grita por mim. Porque no fundo, é só a gente que sabe o que é melhor para nós mesmos. E eu sempre soube... mas por medo de saber demais, eu fugi. Me enterrei em um lugar que não fazia minhas asas baterem. Eu gosto de voar, e gosto de ter onde voltar. E eu sei que eu sou a minha melhor amiga, a minha conselheira, a minha mentora, minha companheira. Eu quero voltar para mim... E nunca mais me perder!
Tudo passa e isso também vai passar. Eu sei que mereço amor. Eu sei que mereço os melhores sonhos desse mundo. E agora é isso que vou me dar. Não aceitar condições para ter. Pois sabe, até nisso tudo, eu aprendi que a liberdade e o amor são leves. São coisas que não pesam.
Aceitar esse amor todo, que quis doar para outras pessoas e outras coisas, será apenas destinado para mim agora. Acolher esse lado machucado. Esse lado que foi ferido por sermos o que somos... livres. Sentir toda a imensidão desse amor... por cada pedacinho... por cada história... por cada erro e acerto... por cada sonho realizado... por mim.

Volto com as malas, mas volto com elas vazias de tralhas alheias e mais cheia de mim!

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