A alma não tem data de vencimento

Observando o que eu alimentava. De certa forma, meus desejos e vontades davam força a este ser. Era como se eu vivesse em cima de uma ilusão percussora deste alimento. Eu alimentava esta ilusão, este demônio foi criado por mim.

Agora estou aqui cheia de mal uso. Como um produto velho e usado. Repassado de mão para mão. Passado de pau para pau. Vestida de meretriz como eles gostariam e transbordando limites, cascos e feridas. Tratada como um produto vencido. Jogada a nada como se fosse desprezível o que sou além deste corpo. Mas eu entendi o meu valor e o vício de desejos saciados... me levou de novo de frente comigo mesma.

De fato o que eu quero? Por que quero? Será que eu realmente preciso disso? Para ocupar um vazio que eu mesma me alimentei?
O vazio e a completude infinita de não pertencer a nada. Da magnitude de não ser permanente em absolutamente nada. O que dói é o uso do meu corpo como um monumento raro mas quebrado. O que se faz com isso? Ignorada, dispensada e em cacos.

De fato sei o meu valor? Será que eu realmente quero saciar o desejo deste vazio? Sei que não sou o que me veem, sei que sou muito mais... E por que aceito isso? Por que aceito migalhas emocionais? Todo o cristal se quebrou e agora com minhas próprias mãos estou reconstruindo. 

Nunca gostei de usar pessoas. Não gosto de sentir algo como mera casualidade de vontades. Porque gosto da profundidade, gosto do intenso e não quero viver no raso... No acaso. Minha vida tem propósito, tem sentido. Mas se sentir usada é uma das piores sensações que eu poderia sentir. Sou reduzida a nada, a um corpo que envelhece, a uma cara que cria-se rugas, a uma personalidade que não transmite nem 1% da enorme luz que carrego aqui dentro.

Mas me avisaram que a tirada da capa seria determinante em quem chega e em quem fica. Sei meu valor e sei que não sou um produto. Não vou alimentar esse falso desejo, essa ilusão. Sou mais que uma bunda, sou mais que meu corpo... Sou uma ALMA. E almas não se usam.

Almas se transformam. Almas se mudam. Almas evoluem. Almas choram, gritam, sorriem, despertam... ALMA AMA. E nesses tempos tão líquidos, amar é um contrafluxo. Amar é um distúrbio. Tudo se tornou tão descartado que nós, seres humanos, também nos tornamos. Meros produtos do meio. Usados com datas de validade e manual de uso. Formados por suas incapacidades de sair do raso e ir além. Porque o produto, por mais que tenha um propósito para ser usado, ele pode ser substituído. 

E por mais que aceite a impermanência da vida e a sua efêmera condição... o "uso" não deve ser vazio. O experenciar não deve ser acaso. O viver não deve ser descartado, jogado ao lixo como um casco velho. A alma não será descartada JAMAIS. Ela vive, ela é eterna, ela se transforma... Ela é mais do que se pode ver em seus manuais e sua data de validade. A alma não tem vencimento. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mergulhe

Cartas de amor para um desconhecido

Demais