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Mostrando postagens de outubro, 2024

Capítulo 55: Renascimento no Caos

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No que me transformei? O que escolhi? Escolhi não ver, escolhi me esconder. Me esconder de mim mesma, fingir saber, fingir que não tinha condições suficientes. Me importar além do que deveria com coisas que não mereciam tanta atenção e ver a realidade dolorosa de uma criança gritando em pânico, de uma adolescente apavorada com o futuro, e de uma adulta cheia de certezas e soberba. Segurando tudo sozinha, porque algumas dores simplesmente não têm explicação. E, mesmo que eu, como escritora, pudesse sintetizar os movimentos da consciência, falar sobre os sentimentos sempre foi algo mais complexo. O grande Saturno retornou à minha vida agora. Sem dó, sem piedade. E me trouxe as consequências de todas as minhas ações: a falta de responsabilidade, de compromisso comigo mesma, a falta de sabedoria para lidar com a dor. Convivi tanto com ela que se tornou minha amiga, minha parceira. Encontrei um jeito fascinante de justificá-la, de torná-la a dominadora das minhas atitudes e ações. Dei a ela

Capítulo 1: Quando as estrelas apagaram

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Naquele dia, as estrelas pareciam ter se apagado antes do entardecer. Fomos para a festa na empresa do meu pai, um evento que deveria ser uma celebração, mas para mim, parecia o prelúdio de uma tempestade que eu já pressentia. Desde que me entendia por gente, sempre fui sensível às dores ao meu redor, e naquele momento, a dor de minha mãe era palpável, como uma sombra densa, pairando sobre nós. Meu pai, imerso no álcool e no ciúme, tentava preencher seu vazio flertando com outras mulheres à vista dela, enquanto eu fingia não ver. Mas, por dentro, algo em mim já sabia — aquilo era apenas o começo. Eu, com meu semblante abatido, sentia que algo estava para acontecer. A antecipação do desastre me envolvia, como um presságio silencioso, sem forma, mas inevitável. E então, quando a noite avançou, os sussurros das brigas ecoaram pelos corredores da casa. No banheiro, meu pai e minha mãe se enfrentaram como dois titãs arrastados por uma força destrutiva. Medo. O medo que senti naquela madruga

A rara arte de escutar: em meio ao ruído, quem ainda ouve?

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Ouvir, entender, escutar. Em que dinâmica estamos mergulhados, onde o tempo parece sempre escapar entre os dedos, escasso demais para ouvir o outro? Vivemos numa superficialidade que nos empurra para a pressa, com diálogos rasos e pouca disposição para escutar verdadeiramente. A realidade moderna nos impõe um ritmo frenético, onde a profundidade se perdeu e as pessoas seguem cada vez mais distantes, sem sequer tentar compreender umas às outras. É natural não querer encarar certas verdades, assim como é comum evitar o esforço de oferecer a escuta ao outro. O tempo é dinheiro, a vida corre, e, nesse fluxo veloz, deixamos passar a chance de nos entregarmos a trocas sinceras e genuínas. Percebo que o ato de ouvir perdeu a prioridade, talvez porque nem a nós mesmos conseguimos ouvir. Abandonamos a essência de uma escuta ativa e honesta. Perdemos o filtro, adicionando critérios que nos afastam do que não nos serve mais. Praticamos zero tolerância ao que consideramos irreal. Falamos para reaf