A rara arte de escutar: em meio ao ruído, quem ainda ouve?

Ouvir, entender, escutar. Em que dinâmica estamos mergulhados, onde o tempo parece sempre escapar entre os dedos, escasso demais para ouvir o outro? Vivemos numa superficialidade que nos empurra para a pressa, com diálogos rasos e pouca disposição para escutar verdadeiramente.

A realidade moderna nos impõe um ritmo frenético, onde a profundidade se perdeu e as pessoas seguem cada vez mais distantes, sem sequer tentar compreender umas às outras. É natural não querer encarar certas verdades, assim como é comum evitar o esforço de oferecer a escuta ao outro. O tempo é dinheiro, a vida corre, e, nesse fluxo veloz, deixamos passar a chance de nos entregarmos a trocas sinceras e genuínas.

Percebo que o ato de ouvir perdeu a prioridade, talvez porque nem a nós mesmos conseguimos ouvir. Abandonamos a essência de uma escuta ativa e honesta. Perdemos o filtro, adicionando critérios que nos afastam do que não nos serve mais. Praticamos zero tolerância ao que consideramos irreal. Falamos para reafirmar nossas verdades, sem abrir espaço para as diferenças, sem acolher os conselhos que vêm de fora. Não permitimos que o outro encontre um lugar seguro para se expressar.

Mas por quê? Estamos cansados, exaustos em meio a rotinas frenéticas, ansiando por um pouco de quietude. Ainda assim, continuamos a nos afogar em informações rasas, respostas fáceis que apenas alimentam nossa insatisfação. O fluxo é acelerado. Corremos a 150 km/h, pulamos áudios, desejamos impor nossa razão. A modernidade nos trouxe essa ânsia, quase uma enfermidade.

Imersos nessa realidade, perdemos o tato ao comunicar. Apreciar o que o outro tem a dizer tornou-se raro. A maioria das pessoas não quer escutar, apenas falar. E quem tem tempo para isso? Buscamos curas rápidas, soluções práticas que não fazem jus à complexidade das questões humanas.

Numa troca, é necessário falar, sim, mas também é fundamental ouvir. Entender de fato o que está sendo dito. No entanto, poucos estão dispostos a sair de seus modos automáticos. Poucos reconhecem suas falhas.

Mesmo como comunicadora, confesso minhas dificuldades em escutar. A ansiedade toma conta, a ânsia de ser ouvida sufoca o espaço do outro. Onde perdi o prazer que sempre tive em ouvir e trocar? Onde deixei de aprender com o que o outro tem a compartilhar?

Minha sagacidade interpretativa tornou-se mais um reflexo de mim mesma do que uma pausa saudável para os meus pensamentos. Afinal, quem ainda quer escutar de verdade? Hoje, pagamos para sermos ouvidos, na terapia. Não temos mais tempo para praticar uma conversa saudável. Nos informamos, mas será que ouvimos realmente o outro? Será que realmente entendemos as mensagens? Será que realmente queremos nos informar? Ou só buscar afago nas dinâmicas assertivas de "certo e errado"?

Falar o que o outro quer ouvir é fácil. Aplaudir sua própria verdade é confortável. Mas é necessário agir com lealdade a si mesmo e à comunidade. Falar a verdade, ainda que às vezes dolorosa, pode, se dita com o cuidado certo, abrir caminhos para reflexões mais profundas e transformadoras.

A escuta, afinal, é para os grandes. Para aqueles que veem no ato de comunicar um processo de beleza, crescimento e valor. Ruídos existem, o tempo é escasso, o cansaço nos alcança, a ansiedade nos cerca. Mas aquele que ouve, verdadeiramente... esse se tornou um ser raro no mundo de hoje.

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