A fé está na estante


Maremoto de emoções.
Ondas gigantes quebrando sob um céu cinza de tempestade, repleto de trovões que ecoam dentro de mim. Poderia acolher essas nuvens como parte do meu ser — pensamentos caóticos, disrupções sociais mal resolvidas. Mas por quê? Por que deveria acreditar nisso? Por que deveria me importar?

No reflexo do espelho, vejo uma caça. Há algo feroz no fundo dos meus olhos, uma tormenta prestes a explodir. O tsunami me roubou o fôlego antes que eu pudesse compreender.

Quanto tempo faz que não amo? Quanto tempo faz que não sinto? Onde se perdeu essa parte de mim? Tornei-me o poço vazio que tanto temia? Nada mais existe aqui dentro?

O vazio voltou. Imenso, opressor. Um soco no estômago, trazendo perguntas que me invadem sem permissão. Sobre a vida. Sobre minha insignificância, minha arrogância disfarçada de autocontrole. O medo escondido atrás de cada resposta que finjo encontrar.

Eu gostaria de mais uma dose, por favor. Só mais um golpe na autoestima, só mais um passo rumo à destruição. Talvez eu aguente. Talvez a humilhação seja menos insuportável do que o silêncio.

O problema chegou, é claro. A narrativa positivista me atormentou, como sempre. “Que bela pecadora”, pensaram, “flertando com a ideia do suicídio.” “O significado da vida é viver”, dizia minha terapeuta.

Mas viver o quê? O que exatamente estou vivendo? Por que devo continuar?

A percepção doentia dessa sociedade me drenou a esperança, querido Papai do Céu. Talvez eu precise de um reset. Talvez minha sanidade esteja em outra dimensão.

Eu a perdi quando você me violentou — quando me fez ver a morte tão de perto. Foi um teatrinho, disseram. Mas sabe, Deus? Talvez eu tenha mesmo vestido a capa dessa personagem. A dor revelou meus abismos, preencheu os buracos onde nada mais cabia.

E talvez... talvez eu tenha finalmente encontrado o que você nunca me deu: a resposta.

Morro a cada passo dessa montanha. E é engraçado, porque ao olhar para o teu céu, imaginei o quanto deve ser mais leve estar aí. Sem as pelancas emocionais. Sem esse corpo físico, pesado, truculento, limitante, paralisante.

Pode me libertar? Dessa cadeia?

“Deus... você me ouve?”

Me liberte!


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